sexta-feira, 1 de outubro de 2010

NOVA YORK DESCOBRE O ZONEAMENTO

Peter Hall - Cidades do amanha (sumula)
Extrato da súmula do arq. Pitanga do Amparo

Os norte-americanos já haviam feito coisa melhor. Seus clássicos subúrbios do século XIX e início do XX, todos eles planejados em torno de estações ferroviárias de interligação com o centro - Llewellyn Park, em Nova Jersey, Lake Forest em Riverside, arrabalde de Chicago, Forest Hills Gardens em Nova York - tinham todos um padrão de projeto conspicuamente alto; Riverside, (...), foi quase com certeza um dos modelos utilizados por Ebenezer Howard em sua cidade-jardim.
(...) Nova York inaugurou seu primeiro trecho de metrô em 1904 (...) Entretanto, como efeito indireto do trabalho de Veiller, surgiu a Comissão para a Superpopulação, criada graças aos esforços dos líderes de centros assistenciais em 1907, e que, em seu relatório de 1911,declarou-se a favor da descentralização através do sistema de transporte.(...) transporte melhor era faca de dois gumes: também poderia significar uma saturação populacional até pior do núcleo urbano, visto que traria mais trabalhadores para dentro dele e contribuiria para uma crescente valorização do solo. Eis o paradoxo que só uma medida complementar que impusesse restrições à altura e à concentração dos edifícios poderia resolver.
O secretário executivo da Comissão era Benjamin C. Marsh, um advogado e reformista social, seu colega visitante, um advogado nova-iorquino chamado Edward M. Bassett. Marsh, em especial, escolheu Frankfurt e seu Bürgermeister Franz Adickes, como o modelo a ser seguido pelas cidades norte-americanas.(...)
Portanto ,o zoneamento chegou a Nova York vindo da Alemanha,(...) foi o modelo alemão de zoneamento conjugado de uso do solo e altura de edifícios que, importado pela cidade de Nova York quando da aprovação da lei de zoneamento de 1916, constitui o mais significativo avanço já registrado na história ainda incipiente do planejamento urbano norte-americano.
As informações e datas a seguir podem ser referência para essa afirmativa de Peter Hall:
O Planejamento Urbano na Alemanha criou novas técnicas de controle do crescimento urbano, fundava-se em padrões organicamente assentados no desenvolvimento da iniciativa privada. Os urbanistas alemães R. Baumeinster (1833-1917) e J. Stubben (1845-1936) difundiram suas idéias em manuais técnicos e ajudaram a fornecer indicações objetivas à uma expansão organizada através de normas de desenho (afastamentos, índices de ocupação, gabaritos) ao invés de soluções formais prefiguradas ou modelos, diferentemente de Ildefonso Cerdá em Barcelona. Enquanto, os manuais técnicos colocavam regras adaptáveis à diferentes condições urbanas; Camillo Sitte trabalhava com a idéia da individualidade dos espaços urbanos.

Baumeinster compreendeu o planejamento urbano como campo de experimentação científica. Produziu manuais básicos sobre os aspectos legais e técnicos da disciplina. Propunha o planejamento urbano em função do tráfego e foi pioneiro na estruturação legal do zoneamento. Tal como Camillo Sitte, Baumeister criticava o uso indiscriminado dos sistemas cartesianos. Recomendando o efeito estético das ruas curvas e a importância do fechamento por “paredes” das praças públicas.
Camillo Sitte em seu livro utiliza um método analítico de comparação entre cidades antigas e modernas, destaca dois aspectos importantes a “idéia artística de base” (modelos e indicações figurativas para projeto: a rua, a praça, o tecido contínuo construído) e uma sucessão de diversos tipos de paisagens urbanas, que balizam a história estética das cidades. Sitte busca estruturas constantes , quer dizer, regras de dimensionamento de praças, relação entre edifícios e praças, fechamentos laterais, disposição de monumentos, árvores, arcadas, etc.

Continuação do texto de Peter Hall sobre Nova York...

(...) No mesmo ano da aprovação da lei em Nova York, John Nolen, concordando com um escritor inglês, afirmaria que o planejamento norte-americano só tinha como meta o progresso urbano quando este não colidia com interesses paramentados. E como foi de Nova York que o zoneamento, como movimento, se espalhou pela nação inteira, essa foi a imagem que dele ficou.
(...) em 1921, Herbert Hoover, no cargo de ministro do Comércio, criou um Comitê Consultivo para Zoneamento que incluía Bassett e Veiller; daí resultou uma Lei de Incentivo ao Zoneamento Estatal Padronizado, de 1923, amplamente adotada e à qual se seguiu, em 1927, uma Lei de Incentivo ao Planejamento Urbano Padronizado, adotada por vários Estados a fim de darem autoridade legal aos planos diretores municipais. E uma série de questões legais sobre limites, que culminaram no histórico caso de 1920, Povoado de Euclid, Ohio, et al.
vs. Ambler Realty Company, estabeleceu a validade do zoneamento como legítima expressão do geral poder de polícia. (...) Em Euclid vs. Ambler, o grande planejador-advogado Alfred Bettman declarava que o "bem-estar público" servido pelo zoneamento consistia na valorização das propriedades da comunidade. (...) Ou nas palavras de um comentador tardio [F. J. Popper (1981)]: "O objetivo básico do zoneamento era mantê-los em seus lugares - fora."

HALL, Peter. Cidades do Amnhã. São Paulo: Peespectiva
SITTE, Camillo. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos, 1889.
COLLINS, George R. e COLLINS, Christiane C.. Camillo Sitte Y el Nascimiento del Urbanismo Moderno. Barcelona : Ed. GG, 1984
CHOAY, Francoise, O Urbanismo, Utopias e Realidades, uma antologia, ed. francesa 1965, 3. ed. brasileira 1992
TAFURI, Manfredo e DAL CO, Francesco. Modern Architecture/1, ed. italiana 1976, ed. americana 1986