quarta-feira, 22 de agosto de 2007

"Escolas" Inglesa e Francesa de paisagismo


Percepção e paisagem
O espaço mensurável da perspectiva renascentista buscava simetria, regularidade, proporcionalidade e possuía unidade, as partes guardavam relação entre si e com o todo. Esse espaço era isótropo e homogêneo, sem lugares e direções preferenciais.
Porém, o espaço natural é diverso, variável, sem forma definida nem limites precisos. O pinturesco, pintura de paisagem, seleciona e recorta um campo de visão marcado pela inusitado da variedade. O objeto da representação não é plenamente controlado, perde-se os limites e termos de comparação, permite-se a deriva do olhar (D’AGOSTINO, Mário- Revista Óculum n. 3).
Na pintura antiga, a natureza não está em primeiro plano ela é quase sempre pano de fundo. No séc. XVIII, no pinturesco, campos, jardins, vistas ganham qualidade estética, na poética do sublime (do incomensurável, das emoções, da natureza em seus perigos) os sentidos são habilitados para contemplar a natureza. A relação positiva com a natureza possibilita a capacidade de percepção de lugares como o campo e a beira mar.
As características do sublime foram definidas por Edmund Burke (1757) ao mesmo tempo em que Cozens definia o pinturesco. No pinturesco os artistas buscam a variedade das aparências, que dá sentido a natureza, não buscam o universal, mas, o particular e o característico. O sublime produz uma teoria da subjetividade das sensações. A natureza é apenas estimulante e não condicionante do pensamento. Tudo que incita as idéias de dor e perigo, tudo que seja terrível constitui a fonte do sublime.
O conceito de paisagem refere-se à natureza transformada pelo homem, está intimamente ligada à cultura. Tem a ver com a idéia de formas visíveis sobre a superfície da terra e com a sua composição. Paisagem de fato é uma maneira de ver, uma maneira de compor e harmonizar o mundo externo numa cena (COSGOVE).
A paisagem está associada a uma maneira de ver o mundo, como criação racionalmente ordenada, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis a mente humana e ao olhar. Isso acontece quando a superfície terrestre estava sendo mapeada nas quadrículas de sofisticadas projeções de mapas, enquanto paisagens racionais estavam sendo construídas em Roma, Paris, Londres e ainda nas colônias americanas (COSGOVE apud CORREA & ROSENDAHL).
O avanço das técnicas agrícolas, o lucro com a terra, exploração de madeira para a indústria naval, florestas replantadas para produção industrial e por outro lado, o conflito ideológico (ilusório) entre modo de vida desejável no campo (salubridade, higiene) e vida sem qualidade na cidade. A arte, as transformações territoriais e técnicas de uso do solo e as modificações no gosto (estética) resultam:
· Na estetização do campo e da vida no campo
· Os jardins são associados ao mito do Éden, recinto de espiritualidade e símbolo de consumo.
· As paisagens tornam-se metáforas da natureza.
· A natureza se incorpora ao cotidiano, mas de reflexão espiritual para a promenade, o passeio.
O paisagismo como prática projetual articula conhecimentos de arqueologia, engenharia de estradas, pontes, de infra-estrutura urbana, hidráulica.
A escola francesa
André Le Nôtre (1613-1700) utiliza a geometria tridimensional, refletindo os estudos de matemática de Pascal e Descartes, além do aprendizado com seu pai jardineiro.
Os castelos, como Vaux-le-Vincomte, organizam um entorno que é um vigoroso cenário e expressa elegância e dignidade. O conceito de planificação dos jardins e cidade de Versalhes (Luis XIV) leva ao campo o impacto da urbanização. O jardim tratado como uma extensão visível captado de uma só olhada (vista). A diversidade das partes devia ser subordinada ao conjunto de escala monumental. A marcação dos pontos de vista é feita com blocos de vegetação laterais, que se constituíam em jardins secundários com experiências visuais alternativas de escala menor, mais íntima.
O precedente geométrico no paisagismo vem do trabalho do pai de Le Nôtre, jardineiro que compôs com radiais os Jardins dos Campos Eliseus e das Tulherias. E serve de referência para o plano de Washington (EUA) de Charles L’Enfant, 1792.





André Le Nôtre propõe um espaço de ordem globalizada, de geometria tridimensional, sólida articulado com o plano do solo bidimensional em eixos radiais no terreno em declive.
O jardim não é um receptáculo de objetos (esculturas) e edifícios, ele constitui uma unidade com eles, e ainda, o produto articula plasticamente entre vegetação, céu, terra e água.
Le Nôtre é o principal representante da escola francesa de paisagismo.



A escola inglesa
Escola inglesa tem como seu principal representante Lancelot Capability Brown (1716-83) que fez o paisagismo do Palácio Blenhein (figura abaixo). Na escola Inglesa a influência é da física de Newton e do Empirismo inglês, aliada ao desenvolvimento do pinturesco e de um gosto pessoal pelo campo.
Os jardins tornavam-se parques coesos de fácil execução e manutenção, assegurando a individualidade da arquitetura em relação à paisagem.





Stourhead, Século XVIII


A arquitetura que se colocava nos jardins ingleses era uma reunião de estilos de diversas origens. A paisagem resultante era da natureza expressa em sua individualidade, a bela natureza, com a qual os pintores rivalizavam e discutiam, a maioria deles ignorava as razões econômicas que levavam a aristocracia permanecer no campo e as tensões sociais causadas.
A mesmo tempo o cultivo de árvores satisfazia interesse econômicos de valorização de propriedades e atendia anseios estéticos de mitificação da vida no campo.
O paisagismo correspondia na arte a ideologia do progresso, melhoramento e embelezamento dos lugares habitados a investigação científica da natureza e ainda, incentivo das modalidades de percepção. O homem produzia sua própria natureza, por meios físicos: terraplanagem drenagem, irrigação, bombeamento de água, utilizando novo maquinário; pelo domínio da representação: compreensão das leis da física, da luz, cor, das perspectivas, pontos de vista, ainda do conhecimento das espécies de vegetação. (SEGAWA).
As paisagens distinguiam os lugares utilitários, de caráter produtivo, técnico e racionalizador dos lugares para fruição estética, de feição contemplativa e para o passeio, onde se manipulava as duras condições de vida no campo e se escondia as referências produtivas do olhar. (SEGAWA).


Bibliografia
SEGAWA, H. Ao amor do público, jardins no Brasil. São Paulo. FAPESP; Studio Nobel, 1996.
STAROBINSKI, J. A Invenção da Liberdade. São Paulo. Companhia das Letras. 1994
JELLICOE, G & JELLICOE, S. El paisage del hombre, la conformación del entorno. Barcelona. GG. 1995
CORRÊA, R. L & ROSENDAHL. Paisagem, tempo e Cultura. Rio de Janeiro. Ed. UERJ, 1998

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