quinta-feira, 20 de março de 2008

Projeto Arquitetônico na Academia de Belas Artes e na Politécnica


Estrutura do projeto clássico: Mimese e ordem
Como foi relatado anteriormente, ordem e mimese organizam o projeto clássico, o discernem dos demais modos de fazer arquitetura. A ordem coloca o problema da conexão entre formas e a mimese como constituição da representação. O problema da ordem é sintático, definir elementos, de estabelecer leis de organização da composição.
O classicismo é um fenômeno cultural, aponta uma hierarquia social. Tem um caráter iconológico, um sistema de signos que para ser lido, depende de um conhecimento prévio, uma iniciação. Traz um problema morfológico, na medida em que, os edifícios clássicos revelam uma maneira de tratar os problemas da estabilidade das construções, do controle bioclimático e do habitat. Expressam uma poética, pois, revelam algo mais que sua organização sintática, baseado em princípios estilísticos. A poética da ordem quer descobrir na natureza a ordem evidente das coisas, e ter consciência da norma imanente na relação entre homens e coisas. A obra clássica e entorno devem manifestar a diversidade de suas características.
As atitudes sistemáticas que fazem do projeto clássico uma experiência e um processo cumulativos: Tratadística de Vitrúvio, Alberti com a De Re Aedificatória, outros tratados, enciclopédia, Durand com seu planejamento axial, Guadet com a composição elementar, Quatemere de Quincy verbetes imitação e tipologia.
Em Vitrúvio a Arquitetura é ordenação, relações entre as medidas dos membros do edifício, proporção do conjunto, simetria, eleição de unidades modulares que unem os elementos e o efeito harmonioso do conjunto resultante destas relações. Euritimia relações entre os módulos das colunas e seu espaçamento, assim como dos outros elementos do edifício.
Simetria é fundamental na obra clássica, é o acordo harmonioso entre as partes e membros do edifício, correlação modular entre as partes e o todo. A simetria é efetuada pela proporção, que por sua vez é obtida pela subordinação dos membros a um módulo, cujo parâmetro é o corpo humano. Vitrúvio ainda relata do agenciamento, distribuição e conveniência, relativos a escolha de partes, volumes e ao caráter do edifício.
Em muitos tratados há a postura de classificar os fenômenos construtivos em categorias essenciais: tais como suas causas imanentes vêm desde Aristóteles. Contudo, a academia que adere a outros estilos, além do clássico, não deixa de recorrer a procedimentos e métodos, tais como, o uso de modelos a priori, tipos históricos, elementos dados ou reconhecidos, normativas consagradas como seção do ouro, planejamento axial, figuras geométricas regulares.

Possibilidade de classificação para análise, a partir de Alberti 1490:
Plano de expressão: Função primeira – Construção- morfologia, estrutura, inserção.
Plano de conteúdo: Função simbólica – Representação – ornamento, significado.

Estrutura Projeto: idéia de ordem a partir do século XVIII
Séc. XVIII e XIX - Idéia de Ordem se relaciona mais estritamente à concepção de Estrutura.
Na Querela entre os antigos e modernos (Séc. XVII) estava em jogo a definição da verdade da natureza dos estilos. Se o parâmetro era a razão histórica ou seu valor mítico. Enfim, estava em discussão também seu caráter instrumental – sua conotação de idéia e forma, seu aspecto normativo, seu aspecto racionalizador.
Com os Modernos a estrutura assume a noção de essência: estrutura - ordem - condição estrutural e compositiva.
Resultado da Querela entre os antigos e modernos
1 - Distinção das ordens clássicas e ordem como estrutura da arquitetura.
2 - Definição de um aspecto permanente, absoluto, estrutural, aspecto (caráter) - Contigente: costume, linguagem, estilo.

Continuidade do Projeto Clássico - Belas Artes - J. Guadet / Politécnica - J. Durand
Existência de uma disciplina específica – ARQUITETURA, ensinada pela Academia
Definida através de uma estrutura profunda - ordem enquanto essência expressando valores permanentes através da estrutura racional (científica) e valores mutáveis – estilos, como processo gerador.

Durand - Politécnica - Séc. XIX
1 - Problema da identidade da arquitetura, os mecanismos de projetar;
2 - Redução da classificação de edifícios a tipos - Momento de introdução de novas técnicas construtivas.
Destitui as ordens antigas de sua significação construtiva e o seu papel central na composição. Tipologia - Torna-se o novo e definitivo instrumento de ordem.

Durand propõe um sistema compositivo baseado nos elementos de arquitetura:
Elementos Construtivos - Valores Formais - Constituição material - Diferenças formas/proporções que devem ter por sua própria natureza. A ordem se expressa na riqueza dos materiais, grandeza, magnificência do edifício, a execução justa, cuidadosa simetria.




Tipologia - ordenar a composição: Durand - Matriz compositiva da ordem
Esta é a ordem especifica da arquitetura: Materiais - elementos de Arquitetura - Composição
· Combinação elementos
· Agenciamento, distribuição destas combinações - as partes dos edifícios - o edifício como um todo.

Neoclassicismo
O Neoclassicismo não se coloca na forma de uma estilística, mas de um modo de pensar exemplar - uma escolha cultural parcial uma poética.


Politécnica planejamento - axial


Belas Artes composição - elementar


Durand
Arquitetura é a arte de compor e de realizar todos os edifícios públicos e privados.
Raciocínio econômico - Conveniência e economia são os meios que a arquitetura deve seguir e as fontes das quais se devem extrair os meios/instrumentos para exercer a arquitetura e esta seja sólida, salubre e cômoda.
· Solidez - materiais/ qualidade / calculo inteligente (suportes esforços) / ligação entre as partes horizontais / verticais equilibradas.
· Salubridade - Localização/ conforto: calor, frio e umidade.
· Economia - grade axial permite calculo
· Controle do projeto - a economia é dada pela simetria/regularidade/simplicidade
· Arquitetura-decoração/ distribuição/ utilidade/ construção
· Ordem - colunas, entablamento e frontões cuja reunião se chama ordem de arquitetura são os componentes essenciais da arte, o que constituem sua beleza e os muros, e outros elementos acessórios são os elementos que se devem no máximo tolerar.

Segundo Durand a imitação não é recurso próprio de arquitetura. Agradar não é objetivo, a decoração não é a sua finalidade.
O objetivo - a utilidade pública e privada, conservada dos indivíduos e da sociedade.
O arquiteto deve ocupar-se da disposição - Arquitetura é solução de problemas Penetrar nos verdadeiros princípios de arte e facilitar a aplicação.
Uso do Desenho
O desenho serve para dar-se conta das idéias - seja no estudo de arquitetura, fixar idéias é linguagem natural da arquitetura, facilita o desenvolvimento de idéias.
3 classes de desenho: planta/seção/elevação...(mesmo plano) A base é a planta baixa.
Composição - caminho a seguir - começar pelo conjunto – e ir depois para os- detalhes.









Essencialização da Composição SEC XIX
Julien Guadet - composição Elementar - professor da Academia de Belas Artes.
"Composição" é um curso objetivo. A composição do edifício em seus elementos e em sua totalidade, a partir do duplo ponto de vista de adaptá-los a programas definidos e às necessidades materiais.
Compor é combinar as partes de um todo. Estas partes são os elementos de composição (quartos, vestíbulos, saídas, escadas - funcionalidade ) e elementos de arquitetura: paredes, aberturas, coberturas etc. Composição parte dos volumes.

Essencialização da Arquitetura - Limpeza, decoração, ornamento, ordem clássica, ordem estrutura (nesta os elementos não tem autonomia); Autonomia das partes/designadas, nomeadas;
Estudo dos tipos de edifícios públicos e privados rompe com barreiras estéticas.



Tipologia - novo instrumento de ordem.

A Academia ‑ escolas de Arquitetura do séc. XIX: Belas Artes e Politécnica ‑ acatou e difundiu os tipos e elementos compositivos, com uma finalidade retora e de produzir uma linguagem universal.
J.N. Durand, que organizou o “planejamento axial”, concepção por esquemas gráficos em planta e cortes a partir de eixos, preocupava-se com o problema da identidade da arquitetura e os mecanismos de projetar. Escreveu um livro, 1802, “Lições de Arquitetura”, no qual refletia sobre a introdução de novas técnicas construtivas e novos programas de necessidades, propondo a redução da classificação dos novos edifícios a tipos. Ele destituiu as ordens antigas de sua significação construtiva e seu do papel central na composição.
Tipologia torna-se, então, o novo e definitivo instrumento de ordem. Quatemere de Quincy, professor da Belas Artes de Paris, distinguia o conceito de tipo do conceito de modelo.
A noção de tipo para a composição da arquitetura é de instrumento de ordem e de convenção, contém um caráter genérico, esquemático, que permite aplicá-lo aos elementos de arquitetura. O aspecto de convenção (sentido comum; código) expressa-se como instrumento de projetação, de acepção operatória, princípio de classificação, por exemplo: casa-pátio, igreja basilical ou cruciforme, planta livre, edifício em barra, igreja de planta central, etc.
Segundo a definição de Quatemere de Quincy, tudo é preciso e determinado (dado) no modelo, e no tipo tudo é mais ou menos vago, o que permite tomá-lo como algo mais ou menos vago.
Na tipologia da Academia do séc. XIX, a tipologia era instrumento na composição de arquitetura, de ordenação dos elementos e materiais de arquitetura: combinação de elementos de arquitetura, espaços (partes do edifício), das partes entre si e do edifício como um todo.
Como instrumento de interpretação a tipologia foi resgatada por historiadores e críticos na década de 50, é famosa a análise comparativa entre a Vila Garches de Le Corbusier, 1927 e a Vila Malcontenda de Andrea Paládio, 1560, feita pelo historiador Collin Rowe.
Este estudo traça um estudo diagramático que comprova a semelhança de intervalos espaciais que estruturam o edifício. Os dois edifícios compactos, de volume único tem estrutura tripartite, dispondo ambas de plano nobre ou ático, finalmente, elas alternam espaçamentos rítmicos (A-B-A-B-A, sendo A=2B). Ao partilharem estruturas formais semelhantes, as vilas analisadas remetem ao mesmo tipo, com todas a s diferenças de estilo e de técnicas construtivas que podem evidentemente ser notadas; sobretudo em relação a extrema simetria (elevação e planta) da Vila Malcontenda e os deslocamentos e transgressões em relação à simetria da Vila Garches.


referências:



ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
BANHAN, Reyner. Teoria e Projeto na Primeira Era da Máquina. São Paulo: Perspectiva, 1979
DURAND, J. N. L. Compendio de Lecciones de Arquitectura . Pronaos. Madrid, 1981.
KAUFMANN, Emil, La Arquitectura de la Ilustración . Gustavo Gili. Barcelona, 1975.

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