segunda-feira, 20 de março de 2017

O Capital, Karl Marx - capítulo 13 - A Máquina e a Indústria Moderna | Zé Moleza

O Capital, Karl Marx - capítulo 13 - A Máquina e a Indústria Moderna | Zé Moleza



Cap XIII: A Maquinaria e a Indústria Moderna

Referência bibliográfica: KARL, Marx. O Capital. Crítica da Economia Política. Cap XIII

Começando
então pela apresentação de um quadro comparativo entre a manufatura e a
grande indústria, é fácil entender por que esta última se apresenta
como base mais adequada ao processo de valorização do capital. Para
isso, recorrer-se-á aos manuscritos de Marx de 1861- 1863, onde ele
preparou o material que redundou na criação da Para a Crítica da
Economia Política. Nesses manuscritos ele destaca os seguintes aspectos
que diferenciam a manufatura da grande indústria:
(1)
"Na manufatura os trabalhos se distribuem em conformidade com a escala
hierárquica das capacidades e das forças, segundo o que exija o emprego
dos instrumentos de trabalho e o maior e menor grau de virtuosismo
necessário. Na manufatura, as capacidades particulares físicas e mentais
dos indivíduos são exploradas coerentemente nesse sentido,
desenvolvidas para dar vida a um mecanismo coletivo de homens;"
(2)
"Ao contrário disso, na fábrica o esqueleto do mecanismo coletivo
consta de diferentes máquinas. Cada uma das quais cumpre particulares e
diferentes processos produtivos que se sucedem um ao outro e são
necessários em todo o processo de produção. Neste caso, não há uma força
de trabalho particularmente escalonada, que utiliza, como o virtuoso,
um particular instrumento de trabalho; senão que, pelo contrário, um
instrumento de trabalho necessita de serventes especiais e
constantemente atentos a seu trabalho. No primeiro caso, o trabalhador
se serve de um particular instrumento de trabalho; no segundo, ao
contrário, particulares grupos de trabalhadores estão a serviço de
máquinas diferentes que desenvolvem processos particulares;"
(3)
Por isso, acrescenta Marx, "a escala hierarquia de capacidades, que em
menor ou maior medida caracteriza a manufatura, não tem mais razão de
ser;"
(4) Sendo assim, prossegue Marx, o que
caracteriza a produção na grande indústria "é a nivelação geral das
operações, de modo que o deslocamento dos trabalhos de uma máquina a
outra pode verificar-se em tempo muito breve e sem um adestramento
especial;"
(5) "Na manufatura, a divisão do trabalho
exige o fato de que certos trabalhos necessários só podem ser realizados
e, em conseqüência, nesse caso deve verificar-se, não somente uma
distribuição, senão também uma efetiva divisão do trabalho entre grupos
especialista;"
(6) Na fábrica, "pelo contrário, se
especializam precisamente as máquinas e o trabalho coletivo; ainda que
as máquinas executem também operações sucessivas de um processo comum
único, exigem igualmente a distribuição de grupos de trabalhadores/.../.
Trata-se, portanto, de uma distribuição de trabalhadores entre máquinas
especializadas,[e não] de uma divisão de trabalho entre trabalhadores
especializados.[Na manufatura] se especializa a força de trabalho que
emprega instrumento particulares de trabalho: [na indústria] se
especializam as máquinas, que são ajudadas por certos grupos de
trabalhadores."
Vê-se, assim, que a manufatura e a
grande indústria se apresentam como formas, de um certo modo antitético,
de produção capitalista. Com efeito, a primeira funda-se numa forma de
divisão subjetiva do trabalho, enquanto que a segunda é a negação do
princípio subjetivista do processo de trabalho. Essa dessubjetivação do
processo de trabalho dota o modo capitalista de produção de uma base
material adequada à reprodução e valorização do capital, na medida em
que agora os meios de produção que empregam o trabalhador e não o
contrário, como ocorria na manufatura. A grande indústria torna-se assim
uma realidade de tecnicamente tangível, na qual tem lugar o fato de que
"não é mais o trabalhador que emprega os meios de produção, mas os
meios de produção que empregam o trabalhador".
Por
conta de tudo isso, assiste-se a uma verdadeira revolução no processo de
trabalho: os instrumentos simples de trabalho, com os quais operava o
trabalhador da manufatura, transformam-se em máquinas. Essa
transformação põe o leitor diante da necessidade de agora precisar o
conceito de máquina, o que demanda que se passe ao segundo ponto que
fora adiantado no inicio da análise.
Marx abre o
capitulo sobre maquinaria e grande indústria precisando, de inicio, que a
máquina, "igual a qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do
trabalho, ela se destina a baratear mercadorias e a encurtar a parte da
jornada de trabalho que o trabalhador precisa para si mesmo, a fim de
encompridar a outra parte da sua jornada de trabalho que ele dá de graça
para o capitalista. Ela é meio de produção de mais-valia."
Sendo
a máquina um meio de produzir mais-valia, sua origem deve ser buscada
na ferramenta manual de trabalho da manufatura. É o que adverte Marx
numa nota de pé de página ao esclarecer que "do ponto de vista da
divisão manufatureira, tecer não era trabalho simples, porém muito mais
trabalho artesanal complicado, e assim o tear mecânico é uma máquina que
executa operações muito variada. É sobretudo falsa a concepção de que a
maquinaria assume originalmente operações que a divisão do trabalho
tinha simplificado. Fiar e tecer foram, durante o período manufatureiro,
diversificados em novas espécies, e suas ferramentas foram melhoradas e
diversificadas, mas o próprio processo de trabalho não foi de modo
algum dividido, permanecendo artesanal. Não é do trabalho, mas do meio
de trabalho, que a máquina se origina.
Se a maquinaria é resultado de um revolucionamento no instrumento de trabalho da manufatura, o que aqui cabe investigar é o...

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