quinta-feira, 16 de julho de 2009

CIDADES-JARDIM E SUBÚRBIOS

Publicidade de casa unifamiliar em subúrbio americano no contexto do Planejamento Regional de New York, 1927. Fonte Tafuri et allii
Suburbio Americano Riversisde cerca de 1930
“Entre dois mundos”
O urbanismo surgido nas grandes cidades americanas como Nova York e Chicago enquadra-se no sistema competitivo do mercado capitalista. No mesmo período, também ocorreram aportações críticas do problema urbano na América. O culto à natureza e a aspiração de encontrar uma comunidade espiritual, que já estavam explícitas em Thomas Jefferson e nos poetas Thoreau e Walt Whitman. Estes fatos conduzem ao reconhecimento do paisagismo inglês e do urbanismo tradicional europeu como modelos a serem seguidos, mas adaptando-os às condições locais.
O urbanismo americano do séc. XIX possui um ideal de equilíbrio entre cidade e campo, que se tornou significativo com o passar do tempo, com o tema de uma integração entre natureza e espaço construído .
O complexo residencial Llewellyn Park, em Nova Jersey, foi projetado por Alexander J. Davis, em 1853. Foi um dos primeiros subúrbios que se caracterizou por um grande gramado onde se localizavam cottages românticos .
VER.Entrada de Llewellyn Park
Frederic Law Olmestead desenvolveu seu trabalho de planejamento de cidades dentro de uma tradição agrária, sem, no entanto, conseguir desvencilhar-se totalmente do ecletismo e da especulação imobiliária .
Olmestead e Calver Vaux projetaram o Central Park de Nova York, em 1863, fazendo referência ao pinturesco inglês. O desenho tem o objetivo de contrabalançar o gigantismo metropolitano, integrando o espaço aberto do parque à paisagem da cidade, pontuando lugares e percursos agradáveis. O parque tornou-se símbolo de identidade coletiva e de valor econômico, os edifícios residenciais que se localizam de frente ao parque são dos mais valorizados da ilha de Manhattan.
Olmestead e Vaux também projetaram do subúrbio de Riverside, em Illinois, em 1869, o qual delineia o desejo dos americanos de viverem em condomínios exclusivos no “coração da natureza”, mas conectados à cidade por eficientes vias e meios de transporte .
Ver figura Subúrbio Riverside – chamar atenção para o traçado orgânico
Projetos deste porte só apareceram na Inglaterra bem depois, como reflexo do debate socialista sobre a situação de moradia nos centros urbanos industriais.

Europa
Na Inglaterra, Port Sunlight, iniciado em 1889, enfatizava em sua concepção o pinturesco, a baixa densidade demográfica e o respeito pelas condições topográficas do lugar .
Ebenezer Howard, tendo como parâmetro o subúrbio de Riverside, idealiza o conceito de cidade-jardim, que é difundido em seu livro “Cidades-Jardim do Amanhã”, de 1898. Neste propõe uma solução para o conflito entre cidade e campo, grave problema naquele período.
Howard em seu livro, por meio de diagramas, esquematiza uma cidade com população limitada a no máximo 30 mil pessoas e dimensões preestabelecidas a aproximadamente 405 hectares. O terreno de propriedade coletiva deveria organizar por zonas as funções urbanas ligadas à moradia, lazer e trabalho. As casas poderiam seguir diversos estilos arquitetônicos e o comportamento das pessoas era regido por regras éticas. A meta era que as cidades-jardim criassem uma cultura própria .
Figura esquema de Ebenezer Howard adverte que seu diagrama deve ser adaptado ao terreno ao qual seria aplicado.

Os 3 imãs de Howard
“Cidade:
“Afastamento da natureza, isolamento das multidões, distância do trabalho, aluguéis e preços altos. Jornada excessiva de trabalho, exército de desempregados. Nevoeiros, seca, ar pestilento e céu sombrio, cortiços e bares.
“Oportunidades sociais, locais de entretenimento, altos salários, oportunidade de emprego. Ruas bem iluminadas, edifícios palacianos.
“Campo:
“Falta de vida social, desemprego, matas, jornada longa salários baixos, falta de drenagem, falta de entretenimento, falta de espírito público, casas superlotadas.
“Beleza da natureza, terra ociosa, bosques, campinas, florestas, ar fresco, abundância de água, sol brilhante, carência de reformas, aldeias desertas.
“Cidade-campo:
Beleza da natureza: campos, bosques e parques de fácil acesso, aluguéis baixos, preços baixos, oportunidades para empreendimentos, ar e água puros, residências e jardins esplêndidos, liberdade. Oportunidades sociais, muito a fazer (construir), nenhuma exploração, afluxo de capital, boa drenagem, ausência de fumaça e cortiços, cooperação”.
Raymond Unwin e Barry Parker fizeram diversos projetos de cidade-jardim, na Inglaterra. Barry Parker também atuou nos EUA e no Brasil. Na Inglaterra, o projeto de Lechworth de 1899, inspirava-se em William Morris, preservando as qualidades de privacidade, de funcionalidade e de “honestidade” na relação entre forma e materiais construtivos. O traçado urbano tinha um desenho orgânico, adaptando o diagrama de Howard às condições preexistentes no local.


América anos 1920-30
Nos anos 30, Clarence Stein, arquiteto americano, concebeu um modelo urbanístico denominado Radburn, para um bairro de mesmo nome em Nova Jersey. O modelo radburn contribuiu para qualificar o local, afastando a dispersão e ausência de sentido de vizinhança em que os subúrbios haviam decaído. Entre 1928 e 33, Stein criou tipos de assentamentos residenciais que inovaram o conceito de cidade-jardim, agregando-lhe o conceito de unidade de vizinhança e de diferenciação entre percursos e áreas verde, assim como de ruas de acesso às moradias e ruas de serviço.
A despeito da escala doméstica dos projetos de Clarence Stein, sua intenção era alcançar complexos urbanos inteiros, porém, a crise de 1929 interrompeu a implementação de suas propostas, sem que deixassem de ser conhecidas entre os arquitetos do CIAM, que as aplicaram em seus projetos urbanos, sobretudo no segundo pós-guerra .
Ver figura. Plano do Radburn de Clarence Stein, em Nova Jersey, 1928-33
Também foi aplicado em centro de densidade mais elevada como Nova York, como apartamentos-jardim, ver Livro de Nova York anos 30.
As propostas de cidade-jardim americanas e inglesas tinham como meta, obter para seus cidadãos um modo de vida pacífico, harmônico e saudável.
O espaço de alta densidade e geométrico das cidades verticalizadas americanas é o seu inverso, a dispersão e organicidade atingidas nos subúrbios-jardim, resultam em idéias de moradias distintas, que refletem nos modos de vida dos habitantes, nas tipologias, programas e plantas da habitação e mesmo nos estilos arquitetônicos.
Profa. Clara Miranda/ Fichas de leitura/ 2000

Bibliografia
TAFURI, Manfredo & DAL CO, Francesco. Modern Architecture/1, Milão: Electa. New York. Rizzoli.
CIUCCI, Giorgio, DAL CO, Francesco, TAFURI, Manfredo. La Ciudad Americana, de la guerra civil al new deal. Barcelona: Gustavo Gilli
HALL, Peter. Cidades do Amanhã. São Paulo: Perspectiva
HOWARD, Ebenezer. Cidades-Jardins de Amanhã. São Paulo: HUCITEC.
ver tbm.
http://www.idealcity.org.au/town_planning-5-modern_metropolis.html

Llewellyn Park

Riverside, Nova Jersey, Frederik L. Olmestead

Um comentário:

Alessandra disse...

Olá Clara. Parabéns pelo blog. Gostaria de uma ajuda sua se possível. Estou pesquisando sobre cidades-jardins, e neste momento procurando analisar alguns casos de cidades deste modelo (ou adaptações) do século XX pelo mundo. Você tem algum artigo ou material para indicar?
Grata pela atenção.