quinta-feira, 22 de março de 2012

Elegância concreta - gazeta online

Elegância concreta - gazeta online
Vitor Graize
Em 1954, quando inaugurou seu escritório em Vitória, a arquiteta Maria do Carmo Schwab encontrou em algumas residências um elemento que não se poderia dizer adequado ao clima da cidade. Mas as lareiras estavam ali, enfeitando as salas dos mais abastados e revelando como se faziam cópias descaradas dos projetos encontrados em revistas.

Hoje, aos 79 anos, habitando um dos apartamentos do Edifício Barcellos, que projetou em 1959, Maria do Carmo conta a história da arquitetura modernista no Espírito Santo, cujo programa ela contribuiu para divulgar juntamente com Élio Vianna, Décio Thevernard e Marcello Vivacqua, outros pioneiros.

Autora de projetos como o da Sede Social do Clube Libanês (1958), em Vila Velha, além de diversas casas, edifícios residenciais, escolas, hospitais e igrejas, ela lamenta o descuido na preservação desse patrimônio. "A arquitetura define a época. Estão demolindo meus projetos. A gente fica triste porque é como um filho. Mas eu existi, passei por aqui", diz, sem ressentimentos.
 
O Clube Libanês, que há alguns meses teve toda sua fachada alterada, é apenas um dos exemplos do descaso com o patrimônio da arquitetura modernista no Estado, estilo que predominou nas décadas de 50 e 60 e que conta com exemplares espalhados pela Grande Vitória e interior. Recentemente, uma residência na Av. Nossa Senhora da Penha, situada no centro de um amplo terreno e projetada por Ronaldo Muniz Freire Alves com traços modernistas, foi demolida. O mesmo ocorreu com o antigo Palácio dos Esportes, na Av. Vitória, obra de Élio Vianna posta abaixo para ampliação do Hospital São Lucas.

Surpresa
O arquiteto Pedro Canal, diretor-presidente do Instituto Goia e arquiteto licenciado da Divisão de Revitalização da Prefeitura de Vitória, conta que foi surpreendido pela demolição do Palácio dos Esportes em um domingo, após dar um parecer contrário à demolição.

(...)
Linguagem
A professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Clara Luiza Miranda diz que não havia uma linguagem capixaba dessa arquitetura, visto a internacionalização do modelo modernista, mas coloca algumas obras no mesmo patamar de grandes projetos nacionais. "O Clube Libanês é uma obra-prima da arquitetura moderna. Tem um balanço ousadíssimo e uma escada fantástica, além da transparência da construção. É um projeto magnífico", analisa.

Clara Miranda mantém na universidade um rico acervo de fotos, projetos e textos sobre a arquitetura capixaba, alimentado por pesquisas sobre o estilo modernista. Também é possível encontrar informações na internet, como o site Arquitetura Moderna Capixaba (www.arquiteturamodernacapixaba.hpg.ig.com.br), um pouco desatualizado mas ainda assim útil, e a página mantida pelos funcionários do prédio da Secretaria de Estado da Fazenda, obra de Ary Garcia Roza que tem em seu interior um painel de Burle Marx. 

Maria do Carmo Schwab, que mantém sua prancheta, suas réguas e o estojo Kern suíço que ganhou do pai na mesma sala onde o juramento de arquiteta repousa em uma moldura na parede, revela todo seu amor pela arquitetura sem se prender ao estilo modernista do qual foi uma das principais entusiastas. "O trabalho do arquiteto tem de demonstrar o estágio sócio-econômico, cultural, tecnológico e industrial de sua época. Arquitetura é isso, um pouco de arte e de tecnologia", afirma.

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